29 de out. de 2010

Como se manifesta o poder na escola pública brasileira? [Alexandra Quadro Siqueira]

Pode-se afirmar que há um consenso na sociedade. Que a educação escolar tem relevância com respeito à inclusão social, formação humana e realização das pessoas. Porém, o que poderia ser relacionado como ação orientada em uma esfera de valor, não parece ser constituinte da esfera do racional, há aqui uma contradição entre o valor e o racional. O cenário que constatamos em muitas escolas públicas, ao contrário do que se poderia esperar, é o de pichações, sujeira, equipamentos desgastados, móveis quebrados…
O que em uma primeira análise pode ser qualificado como decadência e desordem, passa a tomar um novo aspecto sob nosso próprio olhar na medida em que vamos integrando com aquela comunidade. Alguns aspectos se tornam familiares e aceitáveis ou, talvez, imperceptíveis por conta do costume e/ou da alienação. O fato é que, em algum momento, acabamos nos acostumando com o ambiente e deixamos a reflexão de lado e, simplesmente, interagimos adaptados ao meio. Contudo, uma nova pichação ou uma janela quebrada na manhã seguinte trazem de volta aquele questionamento inicial. Isso ocorre porque estamos submetidos a uma força capaz de nos convencer no ponto mais íntimo da nossa mente de modo a julgarmos estar dando significado a um determinado fenômeno, mas o que acontece é que o significado já está dado. Há uma banalização da realidade. O que parece ser fruto do nosso livre pensar, ora é produto das representações, ora é fruto das relações sociais produtivas. As representações de que nos referendamos são dadas a nós pela linguagem, não simplesmente a língua falada, mas todo um contexto de significados que entendemos e interpretamos nos limites da nossa cultura. Quanto às relações sociais produtivas são emanadas diante da realidade concreta alienante que vivemos pois ela não aparenta ser o que de fato é, ou o que deveria ser.
As crenças e explicações elaboradas a partir da interação social são o fruto do relacionamento entre os indivíduos, seja por mero contato ou por intermédio de relações lingüísticas. Por conta da linguagem os significados envolvidos despertam expectativas em relação ao outro, determinando uma influência mútua entre as pessoas. O resultado deste relacionamento implica na modificação do comportamento dos envolvidos, concretizando-se no contato e na comunicação estabelecidos entre eles.
A socialização entre os indivíduos ocorre fruto desta interação, que não se limita a um simples contato, mas da comunicação estabelecida e que irá despertar significados e conseqüentes expectativas com relação ao outro ou a um grupo. O conjunto dessas explicações e crenças, produto das relações entre as pessoas, resulta na interação social, cuja conseqüência determina o grau de identidade entre os indivíduos de um mesmo grupo. Independente da semelhança ou, ainda, das diferenças dos indivíduos constituintes de um determinado grupo, ocorre uma espécie de mente coletiva; uma composição de forças que determina a conduta humana. Isso leva as pessoas a agirem de maneira diferente do que fariam enquanto indivíduos. Agimos, sentimos, pensamos de acordo com os valores do grupo que nos relacionamos e nos sentimos inseridos. Essas crenças consolidam-se e estão profundamente ancoradas na concepção de verdades imutáveis. Nas quais, temos a ilusão de que as coisas sempre foram e sempre serão as mesmas, é comum ouvir dos alunos, somos assim, porque foi “Deus que quis assim”; caindo na armadilha da mesma ilusão. Estas verdades invariáveis, independendo do posicionamento crítico, ocupam em nosso imaginário, por força de tradições históricas do poder de convencimento e controle da normalização dos corpos e das ações das pessoas, no âmbito das relações sociais.Por outro âmbito também, estas mesmas relações sociais, nos impelem condicionados a uma rotina cotidiana alienante produzida e imposta nas relações de produção, reproduzindo neste cenário, os mecanismos que propiciam a força motriz geradora para a manutenção da ordem vigente.
Sabe-se que, funcionários da Secretaria de Educação, professores, alunos, gestores, comunidade de entorno, funcionários, pais são atores existentes imprescindíveis no contexto de qualquer escola, seja ela pública ou privada. As interações com todas estas personagens reproduzem, em escala menor, ou maior, a rede de relações de poder que há na sociedade. No entanto, vale perceber como isto se processa, no campo específico da Escola Pública e a maneira velada e oculta que as idéias e os conceitos podem se estabelecer e subsidiar para que elas de fato se concretizem através do poder disciplinador do aluno. Neste sentido, lanço a minha inquietação: “É possível ter convergências entre o pensamento foucaultiano, na perspectiva de micro poder, e o marxismo, na perspectiva de macro poder,  quanto ao estudo acerca do empoderamento, na condição de sujeito ou assujeitado, especialmente, no contexto da Escola Pública?”
por Alexandra Quadro Siqueira

Um comentário:

  1. Essa nossa amiga é um sucesso de públio e de crítica. Não podemos perdê-la de vista. Ótimo trabalho Alê.

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