21 de dez. de 2012

Pequenos pontos sobre o artigo escrito para o II Congresso Brasileiro de Professores de Filosofia, realizado Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Este trabalho trata do levantamento das atividades do PIBID de Filosofia da Universidade Federal da Bahia em uma escola pública de Salvador/BA, no período de 2010-2011. Apresentamos no centro de nossa produção escrita a vivência de metodologias paralelas e extraclasse que contribuíram qualitativamente na aprendizagem do estudante da escola na disciplina de filosofia e, principalmente, na aprendizagem dos bolsistas envolvidos.

                                    Mapeando o Ensino de Filosofia

O trabalho do PIBID de Filosofia da UFBA na escola pública teve o início de suas atividades em março de 2010. Já no mês de maio sentimos a necessidade de uma maior inserção e transito na escola. A sala de aula com a prática da observação acaba por apontar novas necessidades e abordagens. Com isso, em reunião do grupo, decidimos construir um projeto que tivesse impacto em toda comunidade escolar e ao mesmo tempo nos proporcionasse conhecimento sobre a realidade do ensino de Filosofia naquele ambiente.  

De início começamos a pesquisar modelos de questionários e métodos de aplicação. Em seguida começamos a elaboração do material em dois formatos diferentes: questionário para professores de filosofia e questionário para estudantes do ensino médio. Cabe esclarecer que nosso trabalho na escola estava concentrado no turno noturno, devido a nossa supervisora apenas lecionar neste período. No entanto, com permissão da instituição, os questionários foram aplicados em turmas dos três turnos – matutino, vespertino e noturno – o que possibilitou posteriormente algumas intervenções do PIBID também no  diurno.    

Os resultados desta pesquisa apresentaram os seguintes dados: (1) o ensino de filosofia era visto e aplicado de forma bastante diversa pelos professores da escola; (2) as aulas de filosofia eram ministradas não apenas por professores licenciados na área; (3) o uso de clichês como “a filosofia ensina a pensar”, “a filosofia desenvolve o pensamento crítico”, “a filosofia implica a formação humana”, “filosofia não é estudo é hobby”, (4) grande parte dos estudantes consideravam a disciplina inútil e desnecessária para suas vidas; (5) achavam a disciplina chata; (6) faltavam muitas aulas de Filosofia para se dedicar ao estudo de disciplinas “importantes”; (7) os estudantes e os professores não tinham livro didático de filosofia; (8) a biblioteca era pouco utilizada pelos estudantes da escola; (9) na biblioteca tem um razoável acervo de livros de filosofia.    

De posse dos dados acima, partimos para construção de projetos que, vinculados à prática docente na escola, servissem de apoio para a disciplina de maneira a desmistificar determinados paradigmas. No que concerne à biblioteca, os livros de filosofia foram selecionados e arrumados em prateleiras separadas (os livros estavam misturados aos livros de literatura e postos de formas aleatória), priorizando a temática, o filósofo e a ordem alfabética do sobrenome do autor. Em segundo momento foi elaborado um guia literário com resenhas de sessenta títulos de filosofia constante na biblioteca, sendo este material disponibilizado no balcão de recepção dos livros pelos estudantes, com o intuito de motivar a leitura e facilitar a escolha da fonte.

Vários projetos foram desenvolvidos na escola tendo como base de partida o  Mapeando o Ensino de Filosofia: Filosofia na Cozinha; Banquete Filosófico;  Conversas Filosóficas e Guia Literário. Ainda na perspectiva das inferências concernentes aos questionários, ficou decidido o apoio às atividades do calendário da escola. Este apoio teve por objetivos a circulação do PIBID de Filosofia na escola, a integração interdisciplinar e o estreitamento da relação universidade / escola pública.

                                                     Monitoria na escola

Nosso primeiro trabalho na escola, como posto acima, foi a observação das aulas da professora supervisora. Como essa atividade não compreendia as reais prerrogativas do PIBID e sim parte delas, resolvemos nomeá-la monitoria e buscar um novo formato. Um monitor orienta – no caso da educação – estudantes e auxilia o professor titular da disciplina. Este novo formato também se originou do projeto Mapeando o Ensino de Filosofia com o objetivo de trabalhar com os estudantes a prática da pesquisa e da escrita. Permanecemos na sala de aula, agora não mais em todas as aulas, e em outros ambientes da escola – biblioteca e cozinha – onde realizávamos as atividades de suporte.

A monitoria em si mesma, ou seja, a observação das aulas e o suporte básico – antes dos projetos específicos – pareceram para alguns bolsistas, atividades maçantes e de pouco retorno para cumprir as metas estabelecidas no Plano de Trabalho do Bolsista. No entanto, ao buscar auxilio teórico para o que estávamos trabalhando, assim como, uma metodologia que permitisse, através da monitoria, a aplicação de novos projetos, encontramos o modelo da Pesquisa Participante (DEMO, 2004), que nos serviu de base, como também nos inseriu em outras leituras sobre a relação pesquisa / prática / educação. Nesta medida, nosso trabalho começa a ganhar forma, estrutura e fundamentação teórica.

O trabalho em monitoria é um exercício de acompanhamento do aprendizado dos estudantes, com recurso aos textos disponíveis à disciplina. Trata-se de um esforço de aproximar estes mesmos estudantes da análise dos conceitos e da relação entre juízos num texto, o que constitui a primeira fase da atividade filosófica.

A ideia de que o texto não é uma forma descarnada do mundo impele-nos a pensar a tensão entre as abstrações conceituais e a realidade, esta segunda fase do ensino de filosofia é dialética, pois o objetivo do ensino da crítica filosófica é a capacitação para a interpretação da realidade. De modo que expressões publicitárias como “criar cidadãos críticos” e “humanos melhores” identificam a vagueza intelectual das perspectivas mencionadas no capítulo Mapeando o Ensino da Filosofia, pois todo bom profissional de educação precisa saber que não existe crítica sem objeto, nem humanização sem conteúdo.

                               Grupo de estudos sobre o ensino de Filosofia

Como exposto acima, sentimos a necessidade enquanto bolsistas atuantes na escola, de formar um grupo de estudo. Nosso intuito naquele momento era pesquisar abordagens filosóficas, os teóricos do ensino e os teóricos do ensino de Filosofia, com o objetivo de preparar material de apoio ao trabalho na escola e produzir arquivos para desenvolvimento de nossas pesquisas.

Um grupo de estudo é algo necessário para aqueles que estão inseridos na educação, pois além da pesquisa e os debates, as trocas de ideias são terra fértil para o pensamento. Este grupo tem em seu seio uma característica muito importante: o bolsista que pesquisa pode apresentar ao seu professor supervisor novos conteúdos, novas possibilidades de intervenção didática, ou seja, contribuições para o desenvolvimento do trabalho docente.

Segundo o documento do Ministério da educação e da Secretaria de Educação Básica, Orientações Curriculares para o Ensino Médio, Ciências Humanas e suas Tecnologias,

A Filosofia é teoria, visão crítica, trabalho do conceito, devendo ser preservada como tal e não como um somatório de idéias que o estudante deva decorar. Um tal somatório manualesco e sem vida seria dogmático e antifilosófico, seria doutrinação e nunca diálogo. (2006, p. 35).

Neste sentido, compreendemos a importância de estudarmos de forma criteriosa, tudo que se insere na perspectiva de nossa área de formação. Para que se tenha sucesso neste empreendimento a união de pessoas, com objetivo de trocar experiências, debater conteúdos, formar um arquivo e acima de tudo, tentar aplicar as ideias na prática é de suma importância. Enquanto grupo, acreditamos que o processo de construção ou mediação do conhecimento não pode se perder na falta de conteúdos específicos, sendo este pensamento a mola mestra que regula a nossa persistência e nossos estudos.

                                                             Primeiros frutos

Como fruto dos trabalhos no PIBID após o projeto  Mapeando o Ensino de Filosofia e o Grupo de Estudos sobre o Ensino de Filosofia, surgiram as primeiras pesquisas que deram origem aos seguintes trabalhos:

Ensinar-aprender Filosofia na escola: a experiência brasileira do PIBID.

Trabalho apresentado na Argentina, cidade de Buenos Aires, nas XVIII Jornadas sobre la Enseñanza de la Filosofía em maio de 2011. Este trabalho teve por objetivo apresentar o itinerário do ensino de Filosofia no Brasil, com destaque para as nuances da presença e ausência desta disciplina nos currículos escolares, até a sua obrigatoriedade através da Lei 11.684 de julho de 2008.

Mapeando novos tempos de ensinar-aprender Filosofia: a experiência do PIBID.

Trabalho apresentado no I Congreso Latinoamericano de Filosofía de la Educacíon , realizado na Pontifícia Universidade Católica – PUC de Campinas em agosto de 2011. Seu destaque foi para o projeto Mapeando o Ensino de Filosofia e outros projetos também oriundos desta primeira iniciativa. São eles: a Monitoria, destacada como atividade introdutória do PIBID; o Guia Literário, trabalho que consistiu em preparar resenhas dos livros de Filosofia constantes na biblioteca do colégio, o Projeto Filosofia na Cozinha já exposto acima e por último evidenciamos a criação de um blog onde nossas experiências seriam postas:  http://filosofiapibidufba.blogspot.com.br/.   

                                                            Metodologia

Empregamos nos trabalhos apresentados neste artigo três tipos de metodologia: Análise de Dados; Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa Participante. Para buscar fundamentação teórica para nossas análises e conclusões partimos para a pesquisa bibliográfica, estudando principalmente, mas não exclusivamente, teóricos do ensino de Filosofia. Por fim, no dia a dia da escola, principalmente nas ações práticas, adotamos o modelo de Pesquisa Participante, cujo objetivo e interagir com os atores do processo, de forma a comungar com suas falas, ambiente e modo de ser, sem perder a própria identidade e lugar de origem. Assim, com este conjunto de abordagens de pesquisas podemos desenvolver vários trabalhos e projetos, muitos não constantes neste escrito e outros ainda em construção, neste momento em outra escola, com roupagem diferente na busca de outros modos de ensinar-aprender Filosofia.              

                                                    Considerações Finais

A experiência do PIBID de Filosofia da Universidade Federal da Bahia nos anos de 2010-2011, em uma escola pública no município de Salvador, foi inovadora e demandou muito esforço, trabalho, estudo e criatividade. Os projetos e atividades foram surgindo mediante a experiência da necessidade da própria escola. Tínhamos um Plano de Trabalho do Bolsista que foi elaborado com planejamentos prévios e ideias de projetos a serem aplicados. Quase nada deu certo. Percebemos que na educação as ações acontecem em movimentos próprios e imprevisíveis. Todos os indivíduos inseridos neste contexto são portadores de experiências particulares, experiências estas carregadas de significados e símbolos. O formato único, as ações formatadas e o diálogo unilateral são impossíveis de se encaixar nesse espaço. A educação é movimento, transformação e fluidez, no entanto, principalmente no caso do ensino de Filosofia, temos que trabalhar estas perspectivas sem perder a especificidade do conteúdo filosófico no intuito de não cairmos, como destacado em algumas partes deste texto, em espontaneísmos vazios, ou em um ensino que não leve ao crescimento e desenvolvimento intelectual dos envolvidos.

O PIBID nos permite o trânsito na docência sem ser docente, sem ainda estar em período de estágio e sem conhecimento prévio das nuances da escola e da educação. Este modelo de programa pode nos levar, mesmo inseridos em intensos conflitos, a uma reavaliação precoce da educação, dos modelos instituídos. Cabe destacar que os conflitos são as forças antagônicas em constante lutas umas com as outras, sendo este o principal instrumento de transformação das sociedades.


 
Vera Lúcia Santos Mutti Malaquias  

Heitor Reis de Oliveira

Suzane dos Santos Lopes



                                                         Referências

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei Federal no 9394/1996. Disponível no endereço eletrônico: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei. Acesso em: 01 set.. 2012.
______. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - Resolução CEB/CNE no 15/98. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais> Acesso em: 01 set. 2012.
______. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio / 1999. Disponível no endereço eletrônico: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais>. Acesso em: 01 set. 2012.
______. Lei Federal nº 11.684/2008. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm. Acesso em: 01 set. 2012.
______. Decreto 7219, de 24 de julho de 2010. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7219.htm>. Acesso em: 01 set. 2012.
GALLO, Silvio; ASPIS, Renata Lima. Ensino de Filosofia nas “sociedades de controle”: resistência e linhas de fuga. Pró-Posições. Campinas: jan/abr. 2010.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONE, Marina Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2004.
Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria da Educação Básica, 2006.   

SAES, Silvia Faustino. Subprojeto de licenciatura em Filosofia. Do PIBID – UFBA. 2009.     In: UFBA. Detalhamento de subprojeto de licenciatura. PIBID-UFBA. 2010. Disponível em: http://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxwaWJpZHVmYmEyMDEwfGd4OjMwNWQxNDZjNGM0NWZiZjk>. Acesso em 25 set. 2012.

SALLES, João et all. Relatório Diretoria do Ensino Médio do MEC à ANPOF. Uma análise acerca dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, 2010.





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