[descrição da imagem: a imagem mostra de cima para baixo, o interior de uma torre branca, contornada em espiral por quadrados vazados, como janelas, cuja parte interna é alaranjada. no fundo, há um amontoado de carteiras e mesas escolares quebradas além de outros entulhos]
Há um sociólogo português, Rui Canário, que diz que a educação e os professores, hoje, estão no olho do furacão. Que a escola pública tem enfrentado desafios profundos todos sabemos. No caso da Bahia, caracterizada pelas heranças teóricas, políticas, sociais etc, claramente desvinculadas de motivações promotoras da superação dos velhos problemas que a assolam há tempos, mas que não conseguimos (quisemos?) resolver, creio, há outra metáfora que mais se aproxima da realidade escolar que vivenciamos: a contradição entre os discursos oficiais e as práticas cotidianas nos denunciam que estão desidratando a escola pública, soterrando-a com burocracias, entulhando-a com professores cansados, exauridos por uma carga horária sufocante, salários inadequados. Os educandos estão desmotivados, dizendo-se incompreendidos por currículos, programas e práticas que sentem como se fossem advindas de outra galáxia. E assim, aos poucos, a vida, a potência criativa das escolas está se esvaindo... Chego a pensar que querem transformar as escolas em um deserto.
Só que teimo em não ver a educação por este ângulo apenas: sabe aquela velha história de que o mundo começou em um jardim? Era um jardim em meio ao deserto...
Como uma pessoa que veio de lá do sertão, do meio da caatinga e que está se construindo como educadora também aqui, eu tenho a dizer que é possível sim sobrevivermos, apesar da aridez do solo; que faz toda diferença em casos assim adversos a forma como enfrentamos os desafios. Por isso meu velho amigo Euclides já dizia que, o sertanejo é, antes de tudo, um forte. penso que a nossa força, a força dos que não se entregaram nem se entregarão, está na capacidade de, gota a gota, ação após ação, permitir o fluir da vida dentro das escolas, estas que sentimos tão oprimidas.
Na minha cidade, onde chove pouquíssimo e as pessoas, o gado e a plantação morreriam de sede à espera da água que teima em não cair do céu, nós cavamos o chão, de onde brota a água, de que precisamos para continuar vivos.
Assim a escola tem se revelado: não somos nós os salvadores, está lá dentro a resposta. Está no coração daqueles meninos, das meninas, dos jovens, dos professores e professoras, dos funcionários e funcionárias...
Reforça a minha esperança participar de um grupo com pessoas tão dispostas a transformarem dificuldades em novos rumos...
Neste caminho trilhado a partir da intervenção do Pibid-Filosofia, como bolsista, tendo transitado pelas duas escolas escolhidas até aqui para nos ensinarem a ser docentes, neste processo de (trans)formação, de acumulo de saberes e práticas, fui recolhendo utensílios que julguei necessários para me auxiliarem, ferramentas... neste ano de trabalho, muita coisa mudou, estratégias, pensamentos, dificuldades, superações... a cada dia que passa, percebo que preciso de mais desses utensílios, procuro, experimento. No início foi um tanto quanto confuso. Agora está tudo claro: preciso de ferramentas para cavar uma cisterna!
texto: Adriany Thatcher
leia mais:
Euclides da Cunha aqui e aqui
Rui Canário aqui, aqui e aqui.
gostei do texto professora! parabéns
ResponderExcluirexcelente texto! educação é importante õ/ para um Brasil melhor hehehe
ResponderExcluirAbraço, apóio e trabalho pra mudar a/nossa situação !!!
ResponderExcluirAdriany! Como não é novidade e é sabido por todos: sinto um prazer inefável em te ler, sempre e sempre!
ResponderExcluirConfesso que o título do seu texto me trouxe um pouco de reservas: seria ele mais um texto que culpabilizaria esse sistema? Quem sabe os alunos, mal educados. Ou ainda: responsabilizar os professores pela mazelas da educação. Mas não, Adriany, mais uma vez você me surpreendeu: trouxe uma discussão leve, mas profunda, sobre o que acredito, como "fazedor de educação" que me sinto: experimentar ferramentas e colocar a mão no arado, em busca de uma educação pública de qualidade, ao invés de tão-somente ser uma mera repetidora das vãs falas repetidoras de teorias que sequer foram experimentadas.
Parabéns!
Creio que uma educação pública de qualidade se faz com gente assim: com desejo de mudança, mas que arregaça as mangas e faz, mesmo errando, caindo, quebrando a cara, mas FAZ!
Parabéns ao grupo de vocês, "pibidianos", que, conforme dizia o saudoso Gonzaguinha, a quem peço emprestadas as palavras pra caracterizá-los: "Eu acredito na rapaziada, que não foge da luta, mas constrói a manhã desejada...".
Sigam, pois, construindo uma EDUCAÇÃO desejada!
Nossos pequenos/grandes educandos agradecem!
Abraços fraternos!
Adry, que texto lindo. Primeiramente pelo modo como escreve..utilizando os links que possibilitam uma outra visão para o texto. O ritmo é bom e vai culminando pruma conclusão emocionante. A sua relação da escola com uma cisterna, a foto que descreve muito bem essa relação, a sua reflexão de que a solução está dentro da escola..nos alunos, nos funcionários, nos professores.. isso me fez imaginar que muitos acabam morrendo na seca por não conseguirem cavar essa cisterna há tempo, ou por preferirem se queixar ao invés de agir, ou por morrer de cansaço antes de conseguir algum resultado, ou por preferirem trabalhar sozinhos ao invés de se juntar. Penso que o único jeito de cavar essa cisterna, além das ferramentas, é estando juntos. Pode contar comigo pra cavar!
ResponderExcluiragradeço a tod@s os anônimos e declarados escritos de apoio e afeto.
ResponderExcluirHandherson: os desafios que a educação enfrenta são nossos desafios! e qd a gente se envolve de verdade, saímos todos transformados. é nisso q creio. é o que espero dessa luta.
Quel: e não é que nessa lida diária a gente acabou cavando oportunidades e redenções? daí que agradeço à convivência com gente como vc: moça das idéias fabulosas, com quem tenho aprendido tanto! vamos cavar outros caminhos, outros sonhos, outras transformações!