7 de nov. de 2010

Filosofia na Cozinha [Vera Mutti]



Na atualidade muito se tem falado sobre administração escolar. Discute-se meta, aplicabilidade de recursos, ações pedagógicas e principalmente planejamento. A administração escolar está moldada nos aspectos de administração de empresa, sendo esta, segundo suas características, baseada na lógica de mercado. Mesmo no setor educacional público, esta abordagem torna-se legítima, na medida em que seus gestores, sujeitos sociais, incorporam o movimento pragmático da sociedade. Desta forma, somos induzidos a nos aproveitar da imagem, do tempo e do espaço que convivemos. Nada pode ser perdido. Tudo é rápido fugaz e facilmente substituído.

A escola é um espaço físico, está situada em um contexto social próprio e é composta por pessoas imbuídas dos pressupostos desta sociedade. Como gerir esse espaço sem perder a perspectiva do educar? Que olhar devemos ter para ela no sentido de organismo vivo e pulsante das representações sociais? Como mediar à relação ensino/aprendizagem na perspectiva do sujeito inserido no mundo da velocidade?

Caminhado e escutando os espaços vivos da escola (corredores, salas de aula, sala de professores, direção, coordenação, biblioteca, cozinha...), percebendo suas relações, conflitos e necessidades, nos perguntamos: como colocar em prática nossas perspectivas, traçadas com tanta esperança e confiança no Plano de Trabalho do Bolsista do Pibid?

Foi partindo desta inquietação que chegamos à perspectiva administrativa abordada no inicio deste texto. Concluímos que precisávamos administrar aquilo que nos estava sendo exposto, ajustando nossos objetivos e buscando o ponto central a ser trabalhado. Resolvemos nos focar naquilo que consideramos de maior importância, motivo real da educação: o educando. É para este sujeito que todas as qualidades e deficiências da instituição apontam. Destarte, detectamos que somente através da interação com esse sujeito, da inserção em seus espaços e do diálogo poderíamos realmente pensar o espaço escolar como um espaço comunitário e de construção do saber.

O projeto Filosofia na Cozinha nasceu da análise dos espaços da escola. Na cozinha (na escola não tem um espaço que possa ser denominado refeitório) os estudantes se reúnem para a “merenda”, o bate-papo, o debate sobre as aulas, a feitura apressada dos trabalhos escolares, a risada e principalmente a alimentação. Lá encontramos a diversidade, as histórias de vida, a espontaneidade, a timidez e as expectativas de cada individuo em relação à escola. O nome Filosofia na Cozinha surgiu instantâneo à inerência do espaço ocupado. No entanto, não morre em si mesmo caracterizando um espaço como território único. Pretende, junto com a escola inquietante e que se movimenta, inquietar-se e movimentar-se com ela, construindo outros nomes e ocupando outros espaços.


O objetivo do projeto é construir relação de confiança, diálogo e aprendizagem com os estudantes, assim como, estabelecer integração com os funcionários e professores, na medida em que entendemos espaço comunitário como espaço de relações e reciprocidade. No caso do estudante, optamos pelo modelo de trabalho inicialmente elaborado por David Paul Ausubel, psicólogo da educação estadunidense, denominado “Aprendizagem Significativa” cujo objetivo é priorizar os conhecimentos e aprendizagens já elaboradas anteriormente pelo sujeito, no intuito de construir significado para o que se está aprendendo. No Brasil podemos destacar Paulo Freire como dialogante desse modelo de educação, estabelecendo, no entanto, um método próprio para trabalhar com a alfabetização de adultos.

Através de apresentação de curtas, previamente analisados, tentamos nos adequar ao cronograma da disciplina de Filosofia, trabalhando através da imagem e daquilo que o estudante visualiza nela, a concepção crítica da temática abordada. O estudante é incentivado a falar e/ou escrever suas percepções, a fazer ligação com sua realidade e estabelecer um parâmetro com o que está sendo trabalhado em sala de aula. Momentos temáticos também são aproveitados com objetivo de fazer a ligação com outros projetos da escola e dos bolsistas do Pibid.

Nesta medida, através da experiência adquirida com a proposta do projeto, pretendemos posteriormente tabular informações, produzir material escrito e visual, assim como, tomando como base a proposta do Pibid de “iniciação à docência”, testar novas formas para a prática docente, tomando como base os teóricos da educação e as abordagens filosóficas.


Por: Vera Lúcia Santos Mutti Malaquias




2 comentários:

  1. Relato com teoria e perspectiva. Isto é o que muitos chamariam de "texto completo". Parabéns, Vera!

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  2. Vera,parabéns pelo texto e pelo seu projeto.Vc faz a diferença!

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