Heráclito de Éfeso foi um filósofo pré-socrático considerado o “pai da dialética“. Inserido no contexto pré-socrático, defendeu a idéia de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático – Panta rei ou “tudo flui”, “tudo se move”, exceto o próprio movimento. Mas este é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O devir, a mudança que acontece em todas as coisas é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam; coisas úmidas secam, coisas secas umedecem etc. A realidade acontece, então, não em uma das alternativas, posto que ambas são apenas parte de uma mesma realidade, mas sim na mudança ou, como ele chama, naguerra entre os opostos. Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. “A doença faz da saúde algo agradável e bom”; ou seja, se não houvesse a doença, não haveria por que valorizar-se a saúde, por exemplo. Ele ainda considera que, nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o princípio e o fim, em um círculo; ou a descida e a subida, em um caminho, pois o mesmo caminho é de descida e de subida; o quente é o mesmo que o frio, pois o frio é o quente quando muda (ou, dito de outra forma, o quente é o frio depois de mudar, e o frio, o quente depois de mudar, como se ambos, quente e frio, fossem “versões” diferentes da mesma coisa). Tudo é considerado como um grande fluxo perene no qual nada permanece a mesma coisa pois tudo se transforma e está em contínua mutação. Por isso, Heráclito identifica a forma doSer no Devir pelo qual todas as coisas são sujeitas ao tempo e à sua relativa transformação. Heráclito sustenta que só a mudança e o movimento são reais, e que a identidade das coisas iguais a si mesmas é ilusória: para Heráclito tudo flui (panta rei).O panta rei é uma consequência de polemos (guerra, conflito), que reina sobre tudo. Em consequência, Heráclito de Éfeso não é o filósofo do “tudo flui” mas do “tudo flui enquanto resultado da tensão contínua dos opostos em luta”.
De seus escritos restaram poucos fragmentos (encontrados em obras posteriores), os quais geraram grande número de obras explicativas.
“A estrada que sobe e a que desce são uma e a mesma coisa. (fragmento, 60) a Identidade corre através da Diferença e a Diferença está no próprio coração da Identidade. Daí a idéia de que “em nós é a mesma coisa a vida e a morte, a vigília e o sono, a juventude e a velhice, porque esta se transforma naquelas e, inversamente, aquelas se transformam nestas”. (fragmento, Heráclito, 88)
Por Leonardo Cardoso
Para se poder entrar no estado do sono, necessariamente se tem de estar inserido no seu contrário, ou seja, na vigília. E, para atingir a vigília, você tem que estar inserido no seu contrário, ou seja, no sono. Não é algo inverossímil dizer que, quando estamos em profundo repouso, afetado pelo sono, parecemos estar mortos.
Não é de todo absurdo comparar a vida e a morte à passagem dos dias, pois o dia começa escuro e com o seu decorrer, a luz irradia, destruindo as sombras, terminando claro, fazendo assim um ciclo, como a vida e a morte. Assim é a nossa vida, quando entramos no mundo sensível, passamos a conhecer as substâncias em sua aparência, pois estão sombreadas, não obtemos a luz total do conhecimento acerca do Ser das coisas.
Na medida em que o tempo vai passando, a luz vem ficando mais próxima, para iluminar as coisas, fazendo as sombras desaparecerem, e assim, faz-nos ficar perto de conhecer o mundo onde a luz é constante, e obtermos o conhecimento puro das substâncias, ou seja, a verdade de tudo que existe.
É-nos outorgado, através do corpo, a faculdade de sentir, através dos nossos sentidos. Isso nos impede de inteligir as coisas nelas mesmas, pois, a capacidade de conhecimento das coisas nelas mesmas esta no âmbito do Ser, e não do ente. Isso denota que o corpo constitui um óbice para tal conhecimento.
Daí então, em nós seres humanos, tudo está dentro de nós. Quando a dor nos chega, cuidamos de tirá-la e, logo em seguida, vem o prazer, parecendo que uma coisa está dentro da outra, assim como a fome e a sede, e, logo após, a saciedade. Tudo está inserido no seu contrário.
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