2 de dez. de 2010

A filosofia entre o riso e o sério... e a comicidade disso tudo! [Dayane Tosta]

Deixarei a comicidade disso tudo para as últimas linhas do texto. Talvez o texto inteiro seja um caminho para refletir a “comicidade disso tudo”. Um caminho para um final como proposição, como abertura, como reflexão e chamamento. Um convite a olhar o mundo sob uma perspectiva menos tensa e rígida.

Concentremo-nos então na filosofia entre o riso e o sério. E ao ler o título já somos convidados a pensar em coisas opostas, o riso e o sério são antagônicos, sendo assim, não se cruzam, não se encaram, não dialogam, não podem ser ao mesmo tempo. Pensando na perspectiva da dualidade, a filosofia sempre esteve do lado do que é sério. Os problemas filosóficos sempre estiveram num nível de seriedade tão grande que questionar a sisudez da filosofia se não é pecado é no mínimo desrespeito.

Enquanto suspeita de coisas claras e evidentes a filosofia caminha para o questionamento da realidade, por pura ironia é a própria filosofia que se questiona. Portanto, é o pensar filosoficamente que está em jogo, quando o problema da rigidez filosófica não é questionado. Mas, voltando ao riso/sério: a dualidade só é possível a partir da existência dos dois. O problema da dualidade não é a diferença (oposição), o problema está no “movimento pendular” que nega um polo da dualidade. O riso é sempre silenciado em virtude do sério. Somente na loucura os dois polos dialogam sem nenhuma superioridade. Um exemplo claro disso é esse texto, para propor uma reflexão sobre a dualidade riso/sério é necessário ostentar alguma seriedade, caso contrário ninguém depositaria em mim credibilidade. Certa feita, uma amiga comentou que num congresso sobre o riso a seriedade prevalecia tão vigente que pairava um tom de enterro durante as palestras. Parece que o riso tem que sempre se submeter ao sério para ter credibilidade, o riso tem que dar licença para o sério entrar.

Bergson, no livro O riso: ensaio sobre a significação da comicidade, nos diz que o riso é o castigo que denuncia a mecanicidade dos corpos, que constrange as pessoas e as convida à autorreflexão. O riso constrange, magoa, questiona, tensiona, desconcentra, incomoda, o riso é o que nos convida a perguntar pelo que somos, nos desloca da rigidez mecânica e nos coloca de frente do nosso eu. Somos afetados pelo riso.

A filosofia têm o caráter de deslocar as pessoas de suas certezas mais certas, a filosofia é o lugar onde o óbvio é colocado em questão, onde verdades inquestionáveis não escapam do crivo da crítica. E por isso a filosofia incomoda, afeta, desconstrói, desestabiliza... E em todas essas caracterizações eu posso enxergar uma semelhança entre o riso e a filosofia, não digo do riso feliz obrigatório projetado pelo neoliberalismo, falo do riso de Bergson, o que castiga enquanto denuncia. E só de pensar nessa semelhança, solto gargalhadas! Bergson diz que o riso é o castigo que denuncia a rigidez dos corpos, e a rigidez nada mais é do que a comicidade. A comicidade disso tudo está no não diálogo entre o riso e o sério, a comicidade está na rigidez filosófica que aprisiona as pessoas numa atmosfera mórbida com sua sisudez desenfreada. Com isso, convido a todos a gargalharem disso tudo, e com a gargalhada dizer algo sobre isso que é a filosofia.

Por Dayane Tosta

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