No cotidiano de um colégio público as coisas são bastante difíceis de vingar. Todos nós sabemos disso. Quando comecei a lecionar no ensino médio em 1998, minha incursão pelo mundo estudantil secundarista se deu no Colégio Estadual Anísio Teixeira, situado na Ladeira do Paiva. Ali lecionei a disciplina de Filosofia para os adolescentes no turno da manhã.
Ainda neste colégio existia uma professora encarregada do ‘Serviço de Atendimento ao Estudante’, o nosso extinto S.O.E., mas infelizmente, naquela época eu não tinha idéia da importância desse setor na vida do estudante.
O fato é que o S.O.E. foi extinto, radicalmente, das escolas públicas e nenhum outra iniciativa para acompanhamento do estudante foi colocada no seu lugar. Isso contribuiu para aumentar a demanda das atribuições do professor e a insatisfação de ambos, professores e alunos.
Quando programei a exibição do filme “Preciosa” e posteriormente o Colóquio que se seguiu, com o propósito de abordar o tema “Abuso sexual na infância e adolescência”, na perspectiva da psiquiatria, sabia que estava tratando de um tema delicado e difícil, porquanto do peso e da repugnância que os mesmos suscitam em nós. Percebia a importância e urgência de nossa comunidade em lidar com o tema.
A escolha do filme foi fruto de uma escuta atenta das questões emocionais vivenciadas pelos estudantes, cujo tema surgiu em diversos momentos, também pela relevância social e pela necessidade de fomentar nas pessoas uma atitude pró-ativa, contribuindo para tomada de decisões nas questões em que a denúncia e o enfrentamento se mostram estratégias mais eficazes e podem reduzir danos à saúde de muitas pessoas.
A exibição do filme foi seguida de um momento de interlocução com a profissional convidada e teve ampla participação dos alunos. Foi um momento rico, que teve desdobramentos nos dias posteriores a apresentação, fazendo com que houvesse uma reflexão critica e substanciada do tema.
Ao relatar estes fatos sobre a extinção do S.O.E., o impacto do filme “Preciosa”, o Colóquio e o feed-back dos alunos após tudo isso, quis trazer um questionamento sobre as limitações da prática docente atual, pois somos progressivamente solicitados a papéis outros, que podem fugir da função de docência ou sobrecarregar o docente com ações para as quais não está devidamente preparado, ou não dispõe de tempo hábil para fazê-lo. Sendo que, são questões que afetam direta e negativamente a relação aluno-aprendizagem. No entanto, tais circunstâncias difíceis não devem nos desanimar e diante delas, não podemos mais recuar....
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